Os três pilares de sustentabilidade de carreira: vida, orgulho e mercado
Nesses 11 anos como empresária, percebo nitidamente a forma arcaica que ainda é feito a seleção de pessoas. Exemplifico essa ideia em diferentes práticas do dia a dia empresarial: o perfil carreirista das pessoas (o que importante é o imediato, o status do cargo e o salário a curto prazo). Áreas de RH comumente como setor lúdico dentro das organizações (responsáveis pelo presente dos funcionários e pelas datas comemorativas do calendário anual, ao invés de estar a serviço da estratégia do negócio). A falta do olhar ao subjetivo, de lidar com a complexidade do funcionamento humano, com as emoções. Delimitam perfis de forma rasa e onerosa.
Quando passei a perceber essa lacuna e, o quão prejudicial era para as empresas, delimitei a minha forma de selecionar pessoas. Nesses anos auxiliando organizações, potencializo e valido a ideia no dia a dia e, na academia. A seleção com foco em carreira, fundada pela Planus, é baseada em três pilares: Vida, Orgulho e Mercado. Esses são os grandes princípios de sustentabilidade de carreira e basilares na nossa seleção.
No pilar Vida, diagnosticamos se as diferentes áreas da vida do indivíduo estão conectadas. Muitas das respostas não estão na realidade atual, mas na infância (é lá que encontramos o que somos e o que acreditamos em essência). Suas escolhas de carreira parecem ser suas? Suas escolhas de carreira se integram com sua vida como um todo? O que você acredita querer para o seu futuro? Autoria, honestidade e personalidade são palavras chaves, nunca perfeição. Desafiando o status quo, o que a perfeição realmente gera é a desconexão. Nenhuma carreira é sustentável se for escolhida por terceiros. Se for de acordo com o ideal delimitado pelos outros ao redor. Escolhas baseadas exclusivamente no ideal social, acabam caindo por terra.
No pilar Orgulho, priorizamos o orgulho de ser quem somos, do que construímos (vencendo as dificuldades e aprendendo). Isso é uma métrica importante quando falamos sobre saúde emocional. É bem mais do que apenas se sentir bem, é fator essencial no engajamento das pessoas e no sentimento de propósito das organizações. Quando os funcionários têm orgulho de seu ambiente de trabalho, eles acreditam na empresa – não apenas no que ela produz, mas em como ela opera, como trata seu pessoal e como se envolve com a comunidade em geral. No entanto, muitos ambientes de trabalho não reconhecem que o orgulho não pode ser criado apenas a partir de uma declaração de missão bem elaborada. Ele é cumulativo: não vem de apenas uma coisa, mas sim de uma série de ações e eventos que se reforçam ao longo do tempo e validam o que está no discurso.
Por fim, no pilar Mercado, pensamos de maneira mais concreta. Aristóteles simplificou de forma assertiva essa ideia: "Onde as necessidades do mundo e seus talentos se cruzam, aí está a sua vocação." O mercado delimita as necessidades do mundo atual. Você tem resultados no que se propõe a fazer? Inclusive financeiros? Seus clientes externos ou internos, diretos ou indiretos, têm você como uma referência? A carreira só é carregada de sentido, se não for idealista. Você tem uma expertise definida? Você faz algo que seja valioso para alguém? Se mantem atualizado no seu mercado? Você tem uma reputação positiva? O famoso "autoconhecimento" entra aí. Quem não se conhece, quem não sabe no que é bom ou ruim, não performa, não gera resultados e passa parte da vida se questionando (é comum analisarmos pessoas que trabalham muito e geram pouco resultados, sem entender o porquê).
No mundo atual, extremamente fugaz, não da para acreditar na fantasia do "carreirismo" (vou atingir um cargo X, com 50 anos irei me aposentar e minha vida estará resolvida). Uma carreira é uma preocupação vitalícia. A carreira não desaparece, e nem deveria, porque em cada estágio da existência humana é uma propriamente nobre, cheia de ensinamentos - e, é realmente difícil - perguntar: o que devo fazer com quem sou agora? Entender o que pra mim é uma boa escolha de carreira é uma questão grande, complexa e de longo prazo, não somos rôbos, não aprendemos como máquinas, e, atualmente o nosso maior diferencial no mundo da Inteligência Artificial é a nossa subjetividade e complexidade. Vale a pena investir tempo em pessoas. Vale a pena investir tempo na decisão de suas escolhas. Trabalho é saúde.